Quando amar machuca

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Temos mania de viver da esperança e compaixão pelos outros ou por nós mesmos, chegamos até a sermos vítimas da nossa própria covardia, e de quem mais poderíamos sentir pena? De mim, que sofre com tudo isso e não consegue ver o momento certo para se dar um tapa na cara, ver que já passa a hora e que não há mais chances.

Os dias foram passando, assim como os anos. Nós continuávamos naquele vai e vem, sem saber onde ficar. Estava feliz, apesar do pesares... Mas feliz com a minha vida, não com a nossa. Feliz porque tudo parecia estar dando certo, fui promovida no trabalho, meu livro está quase pronto e nos últimos dias o batom vermelho parecia estar realçando mais a minha pele branca. Você estava o mesmo de sempre, segurando a minha mão como se tudo estivesse bem e discutindo a beleza da sua secretária com seus amigos. Mesmo quando tudo que eu tenha pedido fora o mínimo de respeito por mim.

Cansei. Cansei de usar rasteirinhas e esmalte nude, finalmente a coragem de calçar aquele salto do escuro do closet chegou, colocar azul nas unhas e sair por aí desbravando as ruas dessa cidade pacata com duas ou três amigas ao lado, mostrar que minhas curvas ainda podem ser desejadas por outros olhos. Você se esqueceu delas aos poucos. Me tem na cama e não mais em qualquer cômodo da casa, e quando invento de vestir a última lingerie que comprei você me olha e deita, desculpando cansaço.

 Essa é a minha hora dramática da telenovela, momento em que irei rasgar o peito e jogar sobre você tudo que me aflige. Garanto que você irá se assustar com o que tenho a dizer sobre as coisas e pessoas que perdi durante o martírio desses anos ao seu lado, não que eu tenha me arrependido de súbito, estamos do avesso há algum tempo. Já engoli muito espinho e sequei muitas lágrimas com palha de aço por nós dois, e mesmo com todas aquelas feridas expostas você teve a audácia em dizer que pensou que estávamos bem. É incrível como um amor pode se transformar em um ex-amor tão rapidamente.

Hoje em dia encontro-me nova outra vez, sem as rugas de antes e o sorriso amplo. Tenho respirado ar puro, como aquele da adolescência, sem sentir que todos os seus problemas me sufocassem num só instante. Às vezes, ainda sinto você em mim, e também sinto sua falta... Mas não exatamente falta de você ali comigo, mas sim dos momentos bons que um dia tivemos e que depois de algum tempo nem mesmo existiam mais. Livro publicado, trabalho sucedido e com coragem suficiente para me entregar a outro amor, a vida seguiu em frente. Felizmente.


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3 comentários:

  1. Nossa, você escreveu tão bem, que me deixou sem palavras! Achei que seu texto tão rico e ao mesmo tempo tão objetivo. Muito bom mesmo! Não pare de escrever ein, porque você é realmente muito boa! :D
    Beijos, linda :*
    http://www.coisasdarah.com

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    1. Nossa, Rah! Muitíssimo obrigada, de coração e alma. Sinto muita honra quando elogiam meu sonho, espero que volte sempre, beijos.

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  2. Volta Érica, volta a escrever aqui :(

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