Início de um final feliz – um extremo

0 Comments
Você brincava com meus dedos naquela noite quente de sábado, encaixava sua mão na minha como quem faz promessas em silêncio, abraçava-as quieta, aceitando todo e qualquer toque singelo da sua alma sobre mim. Eram tempos de dúvidas, mas não podia negar todos os meus sentimentos expostos a você naquele quarto escuro, minha respiração baixa cheia de temores e suspeitas, mal me movimentava em seus braços – receava que pudesse arruinar a calmaria de estar com você junto ao silêncio.

“Em que você está pensando?”

Em que pensava afinal? O barulho constante dentro de mim não me deixa ouvir o que penso, apenas deleita-me com memórias inexistentes. Sabia tão-somente que pensava no início e fim, como duas grandezas e, caso não seja audacioso, dois extremos poderiam estar desde o início da manhã ao fim da noite. Início e fim. O ‘e’ era o meio-termo, nós dois, quem sabe. A vida se dá início quando se é gerada em outro ser, o fim está na morte. Mas a morte pode estar presente até que encontre alguém que te traga vida, então fim e início. É preciso ordem?

“Nada.”

“Você ficou calada. Tem certeza?”

Mesmo no silêncio, você sabia reconhecer meus medos. E, mais uma vez, me escondia por temer o domínio que tinha sobre mim. Era um lance de consequências, me recuaria e, por conseguinte, você também. Decidi então, deitada ao seu lado envolta em você, que não deveria mais. Apesar de que aquela era uma promessa vaga, não sabia do futuro, o que traria consigo, afinal ele também é um arremesso de sequelas. “Não.”

“O que foi?”

Sua voz soava clara, tão segura e certa de si que me deixava mergulhar em suas certezas. Fora então que pude notar, o barulho da minha mente havia se sobressaído novamente. Fraquezas e covardias tapando meus ouvidos e olhos, privando de mim uma verdadeira preocupação. “Ninguém acredita que é para sempre.” Lá estava, a criança inspirando controvérsias e eufemismos. Desejando um para sempre e nada além de amor para sobreviver na essência que a vida traz.

“Você acredita?”

“Sim.”

Uma certeza, talvez a única que podia ter naqueles tempos. O amor. Nem mesmo a morte era uma para mim, apenas um substantivo ou adjetivo? Sabe-se lá.

“Então é.”

Uma certeza nossa, talvez a única.


Talvez você também goste:

Nenhum comentário: