Início de um final feliz – um extremo
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Você brincava com meus dedos
naquela noite quente de sábado, encaixava sua mão na minha como quem faz
promessas em silêncio, abraçava-as quieta, aceitando todo e qualquer toque
singelo da sua alma sobre mim. Eram tempos de dúvidas, mas não podia negar
todos os meus sentimentos expostos a você naquele quarto escuro, minha
respiração baixa cheia de temores e suspeitas, mal me movimentava em seus
braços – receava que pudesse arruinar a calmaria de estar com você junto ao
silêncio.
“Em que você está pensando?”
Em que pensava afinal? O barulho
constante dentro de mim não me deixa ouvir o que penso, apenas deleita-me com
memórias inexistentes. Sabia tão-somente que pensava no início e fim, como duas
grandezas e, caso não seja audacioso, dois extremos poderiam estar desde o
início da manhã ao fim da noite. Início e fim. O ‘e’ era o meio-termo, nós
dois, quem sabe. A vida se dá início quando se é gerada em outro ser, o fim está
na morte. Mas a morte pode estar presente até que encontre alguém que te traga
vida, então fim e início. É preciso ordem?
“Nada.”
“Você ficou calada. Tem certeza?”
Mesmo no silêncio, você sabia
reconhecer meus medos. E, mais uma vez, me escondia por temer o domínio que
tinha sobre mim. Era um lance de consequências, me recuaria e, por conseguinte,
você também. Decidi então, deitada ao seu lado envolta em você, que não deveria
mais. Apesar de que aquela era uma promessa vaga, não sabia do futuro, o que
traria consigo, afinal ele também é um arremesso de sequelas. “Não.”
“O que foi?”
Sua voz soava clara, tão segura e
certa de si que me deixava mergulhar em suas certezas. Fora então que pude
notar, o barulho da minha mente havia se sobressaído novamente. Fraquezas e
covardias tapando meus ouvidos e olhos, privando de mim uma verdadeira
preocupação. “Ninguém acredita que é para sempre.” Lá estava, a criança
inspirando controvérsias e eufemismos. Desejando um para sempre e nada além de
amor para sobreviver na essência que a vida traz.
“Você acredita?”
“Sim.”
Uma certeza, talvez a única que
podia ter naqueles tempos. O amor. Nem mesmo a morte era uma para mim, apenas
um substantivo ou adjetivo? Sabe-se lá.
“Então é.”
Uma certeza
nossa, talvez a única.