Nostalgia e o fim de mais uma estação

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O papel está em branco, tudo parece errado e certo o suficiente para que a inspiração não venha. A nostalgia de The Temper Trap não faz tanta diferença, o suspiro vem, as mãos preparam, mas a alma não se sente adequada. Culpa do dia que não amanheceu triste, não choveu e não fez o frio de inverno que sempre é acompanhado de uma caneca de café durante as madrugadas acordadas onde as palavras fluem com aquela facilidade desconhecida nos dias de verão.

O ar condicionado soava bem às duas da manhã, fechar todas as janelas e jogar o cobertor por cima para enganar a mente, a teimosia constante dos pensamentos que enlouquecem sem que eu saiba, sem que eu me importe com a explosão e a deficiência na fala. O caos incomoda nesses dias, o calor parece aumentar pelas horas que se passam, horas que se arrastam, desprezam a ideia de ter pressa com a vida. Pressa de viver.

O sono se perdeu em meio ao emaranhado de sentimentos daquela falta de vento, meus olhos escuros refletiam as luzes vindas de fora da janela estreita do apartamento, nada parecia mais encantador que a parede descascada e suja sobreposta à frente. A angústia de uma palavra errada sempre voltava à meia noite, o coração golpeava meu peito enquanto meu psicológico enganava todas as minhas funções, as mãos tremiam, as pernas já não possuíam mais força e o estômago parecia ser rasgado por borboletas sanguinárias. A manhã, esperança dos afogados, não trazia dádivas... O cotidiano consumia e me fazia morta por cinco dias, um mês, um ano, quase uma vida até que no fim eu queira ver o crepúsculo sem procurar entender por que ele acontece. Ou que a vida passe sem que busque soluções para o amor.

Joguei o cobertor de lado quando a terceira gota de suor escorreu pela minha face, tentei obrigar o sono a chegar, mas a testa franzida ostentava a minha preocupação. Aquela ansiedade por mudanças e as tentativas falhas em consegui-las me faziam abraçar o travesseiro junto ao peito, apertar o lençol como quem quer rasgá-lo e demandar que eu tenha poder sobre o meu corpo.Sobre o que eu sinto. E não que eu esteja sob o domínio de um simples querer, esperar em toda paixão que a mentira não me iluda e que a verdade não desacredite de mim.

Hoje memórias de um amor me vieram à cabeça, dos rodopios e risadas exageradas sem uma razão particular, uma noite debaixo do céu podendo desafiar as estrelas sem que haja limites nas escolhas. Então lembrei que meu cérebro era seu comparsa e gostava de idealizar a nossa falta de paixão, ou seu descontentamento ao apoiar a mão na minha cintura.

O dia chegava.

Alguém amanhecia dizendo o quão belo o sol se mostrava pela aurora, eu planejava continuar o resto da manhã na cama, talvez a tarde criasse coragem para enfrentar o mundo sem sentir o corpo tremendo a cada passo pela avenida principal. Quem sabe um pouco de comédia ou terror durante a tarde me fizesse sentir novamente, esperava poder abrir os braços para a dor sem medo de tê-la como herdeira principal.


Durante aquelas férias de verão a porta se abriu apenas para receber a entrega do supermercado.


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