Ciclos de um labirinto

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A foto rasgada caía sobre o chão com o peso de um amor, exibindo dores que rugiam na promessa de serem passageiras. Duas bocas se cruzavam no fragmento distorcido no canto mais longínquo do quarto, o único pedaço de papel que não se rasgara por completo na fúria de duas mãos e um ciclo: ira, tristeza e decepção.

“Como vai?”

O silêncio mais alto era dentro, um purgatório a cada palavra e o labirinto na saída. A noite amanhecia e o dia padecia em escuridão, a ansiedade transformada em sono prolongada de inverno a verão, de outono a primavera levava idades consigo. E durante esses dias, o sorriso doía ao aparecer. A dor resumiu calor em aflição, às vezes, até mesmo a falta de chuva fazia-me chorar. Ao menos a natureza precisava compartilhar um pouco de angústia, ser companhia naquela melancolia infortuna que apenas a nostalgia parecia enganar. “Não vou.”

O tempo havia parado, os pés ainda colados no mesmo piso e o corpo divulgando solidão. Os livros de cabeceira todos lidos e relidos, alguns romances queimados, outros jogados aos cantos. Começava a manhã ouvindo Maroon 5, mas logo pela tarde Frank Sinatra ecoava quieto na sala, a voz robusta e firme lembrava as noites em que você, tão impaciente, me puxava pra dançar sem motivos distintos. Aquele fora o primeiro sorriso após a sua partida, pensava em você, e aquele lapso não passava de um passatempo de águas, que desceram quando notei o grande equívoco – só você poderia me curar.

Corria todas as manhãs, quando chegava ao apartamento esperava o porteiro dizer que você passou por lá, por muito tempo não consegui notar a aflição nos olhos quando ele me balançava a cabeça por já estar cansado das más notícias, ou das minhas más considerações. O celular, sem chamadas ou mensagens, desligava quando não tinha uso. O seu silêncio me agredia. E, principalmente, a facilidade com que se esqueceu de tudo que ainda me fazia bem, a sua liberdade em deixar que padecesse a nossa história.

“Indo.”

A vida seguiu após algum tempo. O tempo não parou pra que eu abrisse a porta. Talvez alguns meses ou um ano, mas o tempo não foi perdido, uma vida foi recuperada.
Duas bocas se cruzavam no fragmento distorcido no canto mais longínquo do quarto, o único pedaço de papel que não se rasgara por completo na fúria de duas mãos e um ciclo: ira, tristeza, decepção e ressurgimento. “Em frente.”


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