Um redemoinho para cada tempestade

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Não sabia do seu nome, do seu rosto ou do que pretendia. Na verdade, nunca soube. Até mesmo quando você gritou todos os seus medos – e seriam aqueles todos eles? Espero imóvel, na dúvida de que vá voltar atrás ou dar um passo à frente.

Esse seu jeito incômodo de dizer que gosta de mim e está disposto a segurar a minha mão traz de volta a batalha interna entre amor e desespero. Meu amor e o seu desespero. Não venha justificar nenhum acaso, desespero sim! E não por mim, por si mesmo. Sem saber onde se encontrar, você tenta me engolir aos poucos, como se eu fosse aquela peça do seu quebra-cabeça que esteve faltando desde seus quinze anos, quando você havia encontrado a peça original e rejeitado por acreditar que o resultado ficaria feio olhando de longe.

E realmente ficou. Te encontro novamente a fragmentos, quase decomposto ao meu ver. Olhos escuros que já não se abrem mais com aquela massa de dentes tão alinhados, e apesar da blusa vermelha desbotada e o jeans velho, tomei minha dose de você. Talvez não tenha tido o mesmo efeito que um medicamento a base de morfina teria – como no início –, senti naquele momento que eu quem fui a sua cura quando te vi olhar surpreso em minha direção. E, veja bem, nós estávamos no metrô e aquela troca de olhares foi o bastante para que eu me empenhasse novamente a te deixar na gaveta de diários do ensino médio, na qual só meus futuros netos abririam para não esquecer que a avó um dia foi jovem.

Por meses recusei que seu nome sequer fosse pronunciado nos meus sonhos, evitava as ruas vazias e, quando sem opção, voltava para o meu apartamento. Pequeno, velho e com a estante coberta de poeira; e, mesmo assim, o canto mais confortável que o mundo poderia me oferecer a qualquer época do ano.

Sua figura havia sido implacável em certos parques da cidade, principalmente naquela pequena praça sem sombra e ao meio dia em que havíamos compartilhado carícias a suar ainda mais calorias. Mas, não se engane, eu escrevo esse texto esquecendo. Não me esquecendo de você ou dos vários momentos em que acreditei que me amava sem que me dissesse as três palavras, não... Eu apenas me esqueço de que preciso lembrar todos os dias que você não está presente ou que sinto a fagulha de um amor que ainda sofre de esperanças.


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