Segunda-feira

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O amor tem destino marcado, sabe a hora de chegar, o dia da semana, o mês e o ano. Só é arrastado, atrasa-se em avisar a abordagem. Mas há sempre as notificações: olhares demasiadamente longos; o pé batendo nervoso o vento; unhas roídas e mais uma série de coisas que nos comunicam que ainda dá para fugir, basta sair de lá sem olhar para trás e desaparecer de qualquer meio social por pelo menos três meses, e cuidado! Se for para ser, tranque as portas.

E mesmo assim, na maioria das vezes, não funciona.

Tranquei. Tranquei todas as portas, fechei tudo que podia... A porta da frente, a porta do quarto, a cabeça, o coração. E você entrou sem quebrar nenhuma fechadura, foi adentrando cada passagem com a chave que só você tinha, da minha eu já nem sabia mais. Fiz questão em sumir e esquecer, deixar de pegar e fazer daquilo um vício de guarda, escondendo de tudo e todos. E agora estamos aqui, você podendo abrir todas as portas e eu sem poder fechá-las.

Era segunda-feira, seis ou sete horas da noite. Havíamos passado todo o final de semana juntos num acampamento, e tudo que trocamos foram alguns cumprimentos. Quase um ano depois você vem me dizer que não pôde deixar de notar minha presença, eu estava lá quieta e tímida, e hoje ri contando como me achava boba e bonita. Você virou para trás com alguns de seus amigos ao lado, a luz refletia olhos azuis quase verdes, e então disse “oi” oferecendo a mão. Como sempre estava concentrada em algo mais, não na cor dos seus olhos ou em como você ficava bem naquela roupa, talvez estivesse pensando no último livro que li ou na próxima estória a escrever. Mas te tratei como empecilho.

De que adiantou? Bastou uma semana e estávamos naquele mesmo lugar, você encostado na parede encanecida, e minha cabeça em seu ombro. Passamos parte da vida acreditando que no namoro vamos fazer diferente, ter tempo para os amigos, não colocar a pessoa sobre um altar de ouro e venerá-la, não fazer regimes loucos para poder usar aquele vestido, não deixar o namorado jogar na sua presença, obriga-lo a ver filmes de romance e esconder todas as fotos da sua infância para que sua mãe não as mostre. Acontece que as coisas seguem a dois, você fala “nós” e ele “vamos”.


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2 comentários:

  1. Lindo texto, adorei!! :)
    bjuuus

    http://noitesdeleituras.blogspot.com.br/

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