A gente fica mordido

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Você me faltou a memória e por fim: respirei. 

Foram meses de agonia. Uma terceira pessoa se encaixou na minha rotina enquanto eu assistia tudo no plano de fundo, dói dizer que aquele terceiro não passava de uma patologia silenciosa e avassaladora, e, sem pestanejar ou sequer perceber, era eu a telespectadora do meu próprio fim. 

Vários personagens surgiram durante o caminho: o mocinho, a melhor amiga, o professor favorito e, no clímax da história, o vilão. É da natureza humana o julgamento, e cada um é juiz daquilo que pensa sobre si e sobre os outros, o erro está na ação, no que você está disposto a fazer em razão da sua convicção. Porém, mais ainda que o julgamento, a mudança é do ser humano; e essas são duas coisas que relacionadas, correntemente, não possuem um relacionamento saudável. Eu estava sujeita ao julgamento, assim como à mudança. 

O vilão não passava de uma confusão interna de sentimentos que se externavam na ação do seu julgamento intrínseco, enquanto a perspicácia ilustrada pelo mocinho refletia apenas um romance de pobre interpretação. Quando julgados, um era o vilão e o outro o mocinho, mas, no princípio, compartilhavam a mesma cruz: eram humanos. Em algum momento da trajetória a mudança fez-se perceber, pouco mais importava a postura duvidosa do mocinho, e a personalidade vil e incompreendida do vilão era agora tolerada. 

A gente fica mordido ao, enfim, notar que na vida nada dura frente ao infinito. Não existe escolha entre mudar ou permanecer imutável, cada pedaço do dia é uma chuva de pedras, e nem todos nós somos treinados a desviar. Por fim, o erro está na ação: sentar e assistir em terceira pessoa os dias passando ou levantar, colher as pedras e buscar saber por que elas miram em você? 


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